13 de novembro de 2008

Senão eu já poderia arrumar a caixa e colocar os porta-retratos dentro.

Dentre as discussões sobre mercado, design e cores tudo vai passando numa velocidade que não dá para contabilizar. Certamente porque o tempo que eu gastaria contabilizando, gasto tomando cervejas e esquecendo isso por um tempo. Já ouvi mãe de amiga dizendo que ela “só faz design” ou que é tudo profissão para burguês. Já ouvi que “lá na tua faculdade é diferente e na minha não dá para fazer isso não”, mas o que só quem ta lá dentro sabe (ou deveria saber) é que onde estudamos tudo é levado muito a sério, nas minúcias mesmo. Que noite virada não é mérito nenhum e que sim, tudo o que fazemos será sempre pouco.

Das vantagens da estrutura de um curso-muito-loucão-mesmo é que nós fazemos amigos, de verdade. Como no colégio, todos têm o mesmo horário, a mesma quantidade de aula e não rola opção de mudar isso. Não havendo a opção, há a sala, misturada igual bolo – sem ter quem separe. Não quer dizer que todos se gostem, se respeitem e sejam sinceros. Eu mesma não sou assim. Não quer dizer que não haja diferenças e fico feliz por isso. Mas significa que sim, depois de anos você consegue escolher ingredientes e dizer que sim, eles combinam com você.

Aí que para os que olham de fora, pensam só desenhamos, que é tudo estético e inútil, que nós se-veste-tudo-estranho porque somos rebeldes e que vai todo mundo morrer de fome ou vai virar pintor de quadro. Todo mundo ali explicou para os pais que não, que não era bem assim quando passou no vestibular. Todo mundo tentou explicar na balada para o gatinho que não, não fazia esculturas e todo mundo disse para a anta que faz seleção de estágio que não somos programadores. Depois você abstrai, diz que sim, que vai morrer de fome e que sim, é tudo inútil. Depois de um tempo não interessa mesmo o que pensem.

Só que você reavalia e percebe que não são só as pessoas de fora de que não têm acesso as informações (dando margem aos mais diversos preconceitos) e percebe que a sua própria classe se trai, se boicota. Aí você percebe que é por acharem que devem continuar na mesmice, no marasmo do cinza, na cara de produção industrial, que os designers não são capazes de se unirem e formarem um conselho. Não são capazes de fazer algo que desafie o que já existe e não são se quer capazes de respeitar quem tenta fazer isso.

Você percebe que podem se julgar muito diferentes e inovadores, mas não conseguem pensar além do mundo com tons modernistas. Não sabem argumentar, defender seus pontos de vista sem que para isso precisem magoar alguém. Abusam da sua autoridade para provar poder, mesmo que esse poder não exista. E ficam criticando quem se diz designer sem ter feito faculdade, ficam criticando quem usa comic sans e quem usa os termos de maneira incorreta. Preocupam-se em classificar aquilo em arte, isto em design, aquilo em designer, isto em fotógrafo. Como se isso importasse um vintém.

Se querem status, façam direito. Se querem otimizar as questões fabris, façam engenheria de produção. Se querem ganhar dinheiro, vão tudo fazer medicina. Eu só quero deixar um mundo um pouco melhor – me deixem criar em paz.

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