Quando criança as coisas mudavam para mim quando o ano acabava, simples assim. Começavam as férias, vinha o natal, o ano novo e tudo começava de novo. Tudo novo – os cadernos, uma camiseta de uniforme e um número novo no cabeçalho. Passando um pouco de tempo, comecei a acreditar que a mudança maior na vida era a separação dos pais ou uma troca de casa. E eu lamentava que nenhum dos dois acontecia comigo. Nunca comigo.
Aí a gente fica mais velho e mais bobo. Mudavam as melhores-amigas-do-mundo e também as paixões platônicas. Se antes era Bruno agora era João, que logo seria Ricardo e por que não Gustavo? Mudança mesmo era parar de escutar Backstreet Boys e baixar na internet discada (provando o seu real amor) Nirvana Unplugged. Aí que a gente brigava porque quem gostava de roxo desde sempre era Maria e não Joana e que sim, ela tinha sido ridícula em não dizer quanto tirou na prova de Ciências.
Só que uma coisa parecia mais fácil: aceitar as mudanças. Era coisa da idade e tínhamos todo o direito à inconstância. Poderíamos desejar nos formar em medicina e na outra semana sabíamos que a pedagogia é a profissão da nossa vida. Mesmo que o vestibular fosse para Design havia o respeito pelas mudanças. Havia a capacidade de perceber que sim, é o que acontece. Lembra da Julia? Uma vaca hoje... quem vê não imagina a goiaba que ela era.
Era assim, nada amistoso, mas tudo verdadeiro. Hoje tento resgatar minhas idéias alucinadas e o respeito mútuo pela instabilidade alheia. Busco mudar de roupa sem achar graça do que usava um ano atrás. E mesmo que me faça chorar ou ter vontade de nunca mais sair de casa eu penso: se passou, passou e se ficou que bom. E não, não estamos velhas demais para aceitar isso. E não, ninguém do meu círculo de amizades nasceu em 1940.
4 comentários:
eu nasci em 1987
eu tbm :D
quase chorei...
/sério
1988 :D
cara, que júlia que virou uma vagaba?
não era juliana...?
ps: uma pinça pra mim, por favor!
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