Pastel diz (20:37):
Somos sim, arrogantes, mas isso não os isenta de serem imbecis.
Quando um desafeto seu demonstra preocupação e até um certo respeito por você, imediatamente só lhe resta largar as armas no chão e calar-se. Não é que eu tenha desistido, apenas foi você quem me venceu.
Panos de tela vazios
Camadas de argila intocadas
Estavam espalhados frente à mim, como um dia o corpo dela esteve
Todos os cinco horizontes giravam ao redor de sua alma
Como a terra ao redor do sol
E agora o ar que eu provei e respirei, foi revezado
(Pearl Jam - Black)
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.Onde estão os homens entorpecidos e loucamente apaixonados? De certo todos viram música.
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Dizem sempre por aí, naquelas repetições mais desnecessárias do que as capas para controle remoto, que os amigos são a família que nós escolhemos. Aí venho eu aqui e pergunto: e faz o que com a família que eu não pedi para entidade maior alguma?
Faz piada sobre a caixa de leite, que só utiliza materiais recicláveis (ih é?), faz complô para roubar queijo-luxo da avó, faz os outros parecerem burros por não entenderem a camiseta-homenagem à Duchamp. Perdem-se horas de sono rindo sobre os REPETITIVOS-CLICHÊS (não tem quem diga) que passam na televisão, sobre a imperatriz do mau e sobre a supostamente perseguida mamãe.
Faz blasfêmia!, faz caridade, faz piada, faz reportagens, faz filmagens, faz sarau, faz os vizinhos a-d-o-r-a-r-e-m viver aqui pertinho, faz cinismo e faz birra. Faz tudo isso logo ali, na porta da cozinha. Todos os dias.
Fique sabendo que você ainda é um estranho, que eu não esqueci quando você ensangüentou o meu nariz antes da final de basquete (mentira, era semi, mas eu só perdi por causa do nariz), que você ainda é petulante e arrogante. Não, você não conhece todas as palavras do dicionário. Não, você não emprega vírgula melhor do que eu. Não, você não sabe nada da vida do Miró. Sim, você é um futuro engenheiro cinza. Sim, você incomoda tanto o seu irmão pequeno que me dá dor de cabeça.
E chega de elogios, irmãzinho, senão
Bukowski não me perdooa mais.
Te amo até sendo feriado no sábado.
Dentre as discussões sobre mercado, design e cores tudo vai passando numa velocidade que não dá para contabilizar. Certamente porque o tempo que eu gastaria contabilizando, gasto tomando cervejas e esquecendo isso por um tempo. Já ouvi mãe de amiga dizendo que ela “só faz design” ou que é tudo profissão para burguês. Já ouvi que “lá na tua faculdade é diferente e na minha não dá para fazer isso não”, mas o que só quem ta lá dentro sabe (ou deveria saber) é que onde estudamos tudo é levado muito a sério, nas minúcias mesmo. Que noite virada não é mérito nenhum e que sim, tudo o que fazemos será sempre pouco.
Das vantagens da estrutura de um curso-muito-loucão-mesmo é que nós fazemos amigos, de verdade. Como no colégio, todos têm o mesmo horário, a mesma quantidade de aula e não rola opção de mudar isso. Não havendo a opção, há a sala, misturada igual bolo – sem ter quem separe. Não quer dizer que todos se gostem, se respeitem e sejam sinceros. Eu mesma não sou assim. Não quer dizer que não haja diferenças e fico feliz por isso. Mas significa que sim, depois de anos você consegue escolher ingredientes e dizer que sim, eles combinam com você.
Aí que para os que olham de fora, pensam só desenhamos, que é tudo estético e inútil, que nós se-veste-tudo-estranho porque somos rebeldes e que vai todo mundo morrer de fome ou vai virar pintor de quadro. Todo mundo ali explicou para os pais que não, que não era bem assim quando passou no vestibular. Todo mundo tentou explicar na balada para o gatinho que não, não fazia esculturas e todo mundo disse para a anta que faz seleção de estágio que não somos programadores. Depois você abstrai, diz que sim, que vai morrer de fome e que sim, é tudo inútil. Depois de um tempo não interessa mesmo o que pensem.
Só que você reavalia e percebe que não são só as pessoas de fora de que não têm acesso as informações (dando margem aos mais diversos preconceitos) e percebe que a sua própria classe se trai, se boicota. Aí você percebe que é por acharem que devem continuar na mesmice, no marasmo do cinza, na cara de produção industrial, que os designers não são capazes de se unirem e formarem um conselho. Não são capazes de fazer algo que desafie o que já existe e não são se quer capazes de respeitar quem tenta fazer isso.
Você percebe que podem se julgar muito diferentes e inovadores, mas não conseguem pensar além do mundo com tons modernistas. Não sabem argumentar, defender seus pontos de vista sem que para isso precisem magoar alguém. Abusam da sua autoridade para provar poder, mesmo que esse poder não exista. E ficam criticando quem se diz designer sem ter feito faculdade, ficam criticando quem usa comic sans e quem usa os termos de maneira incorreta. Preocupam-se em classificar aquilo em arte, isto em design, aquilo em designer, isto em fotógrafo. Como se isso importasse um vintém.
Se querem status, façam direito. Se querem otimizar as questões fabris, façam engenheria de produção. Se querem ganhar dinheiro, vão tudo fazer medicina. Eu só quero deixar um mundo um pouco melhor – me deixem criar em paz.
Eles deveriam ter doze, treze anos. Certeza que tinham catorze. Bom, pouco importa, sei que eles usavam o uniforme do colégio que estudei a vida inteira e eu resolvi que no ônibus sentaria no banco na frente deles e descobriria quem eu era aos doze, treze ou certamente catorze anos. Ao menos era a minha humilde pretensão. Eles voltavam da aula de Robótica e assassinavam meu sonho de saber como eu era... realmente os tempos são outros. Falavam dos lançamentos do mercado e também do Otávio – o riquinho. Ele tinha um Iphone, mas não era só: o seu pai e seu primo também tinham. Era o modelo com mais gigas. Mas ele se mantinha humilde, como um bom rico deve se manter para não cair na classe dos emergentes.
Depois de falar um pouco sobre Otávio – o riquinho, os meninos falaram sobre Henrique, o que tinha tunado seu micro com tantos coolers que a temperatura interna girava em torno dos 13 graus quando na rua fazia 30. Uma maravilha! Discutiram um pouco sobre salgadinhos e o outro finalmente concordou: não era um amigo tão bom assim, afinal tomou quase toda a coca-cola do outro.
Falavam sobre o Batista – o professor de informática (e esse eu conhecia). Quer dizer, agora ele não é mais o professor de informática; mudaram o nome e é o que disse: os tempos são outros. Das mulheres não falaram um único a, nem mesmo a mãe era mencionada. Já das entradas USB antigas da aula de robótica, gastaram uns três quilômetros falando. Um absurdo, os caras novos da aula de robótica estragavam os computadores, todos bugados devido ao mau uso.
Parte interessante mesmo era sobre o professor de Robótica – o deus. Ele só andava de carro velho, mas tinha uma tevê de LCD no teto, possibilitando jogar play3 deitado na cama. Isso sim que é luxo de vida. Mas é como disseram os meninos, é só focar no que você vai gastar o seu dinheiro. O professor de Robotótica – o deus, dava dicas de vida para os meninos e até mesmo explicava sobre máquinas de pimbolim, coisa que eu achava que nem no meu tempo existia mais.
Avaliavam também a vantagem de comprar uma máquina de pimball, porém um wii seria muito mais interessante de se pedir no natal. Tinham noções boas sobre a vida e seu funcionamento. Tinham suas metas de vida prontas para serem estabelecidas (mais alguém aí acha que eles vão estudar no CTC?), mas tudo era bom demais dentro do mundo que era só deles, com o gráfico bom e sem bugs. Exatamente como eu aos catorze anos.