Até ontem dizia para minha mãe que desprezava o gengibre. Toda vez que o tal gengibre ficava na minha vista (na cesta de frutas ou na geladeira) uma coisa era certa: pobreza. Gengibre só aparece aqui em casa quando não há mais comida alguma disposta. Pior que cheiro de mexerica só gengibre, apesar da briga ser boa.
Só que é aquela história – um dia tudo muda. Hoje tudo mudou. Tudo o que eu pensava sobre o gengibre mudou e agora somos amigos. Ou melhor, somos mais que isso. A relação é tão intensa que agora eu quero ser um gengibre.
Feio e desproporcional o gengibre várias vezes parece um dedo mutilado conservado em geladeira. Mas mesmo assim eu gosto dele. É paixão e a gente não explica, mas vamos aos fatos: hoje eu estava avisada, entre uma garfada ou outra eu iria encontrar o gengibre. Mesmo de forma tensa, nossa relação se aprofundou aí, quando descobri que gengibre é uma pimenta desajeitada, sem cores vibrantes. Discreto e provocante.
Minha personalidade ideal em forma de metáfora comestível. Arde, incomoda e a gente sempre quer mais. Vida longa ao gengibre porque ser bonitinho não é tudo nessa vida quando precisam de nós no dia seguinte.
Um comentário:
o que eu adoro aqui, ainda mais que tu querer ser um gengibre, são os marcadores de cada post
sempre fico pensando neles, em cada post, em cada combinação
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