1 de junho de 2007

Máquinas movidas a olhares.

Tá certo, os anos vão passsando; o verão acabando e todo ano é a mesma coisa: os protestos contra os (abusivos) preços da passagem de ônibus. Florianópolis começa a deixar de aparecer no Jornal Nacional por causa de suas belas praias e o que é noticiado são os estudantes, em bando e aos berros buscando um pouco de coêrencia dos poderes públicos.


Então, já que o clima é 'de revolução' (como escutei hoje) eu também venho protestar.
Fulana (vamos chamá-la carinhosamente assim) está 20 malditos minutos aguardando o ônibus (que certamente levará uma vida inteira para andar 6/7 km); o dia não está bonito (mesmo em Floripa, dias cinzamentos e chuvosos são comuns nessa época). Apesar do ponto de ônibus ser na frente da Igreja Universal do Reino de Deus ficar ali é infernal, de fato. Depois de muito esperar, diante de um vento sul (vulgo ventsuli) Fulana finalmente avista seu ônibus; entra com uma cara de mal comida e passa por uma máquina, passa e passa reto, afinal, onde já seu viu falar com máquinas? Logo precisa pegar seu lindíssimo cartão de estudante ou melhor, a incrível tecnologia de debitar créditos para pagar o ônibus. Obviamente, seu cartão dá erro, faz parte do ritual, o cartão sempre dá erro na primeira tentativa. Fulana, está irritada... Olha ferozmente pra máquina e passa novamente o cartão, que novamente dá erro. Fulana está a ponto de explodir e olha novamente pra máquina e mais do que nunca, não há nenhuma piedade em seu olhar. Passa o cartão novamente e ele finalmente cumpre com a sua obrigação, liberando a roleta (ou catraca, como preferir) para Fulana sentar-se e chaqualhar-se até seu próximo destino. Fulana dá um olhadinha final, como quem diz 'máquina imbecil, fez eu perder 38 segundos da minha vida' e segue para a parte de trás do ônibus.


Estou sentada no ônibus, quase tonta e sempre enjoada, que pára no centésimo ponto e entra uma menina, deve ter uns 22 anos, (vamos chamá-la carinhosamente de Fulana), passa pelo motorista mas não o enxerga, não dá boa tarde e não esboça nenhum sorriso. Fulana passa como se o motorista fosse uma máquina que dirigisse (de forma muito ineficaz) e só, ele não é nada além disso. Fulana pega o seu cartão de estudante, que passa num sensor que debita os créditos, porém o cobrador precisa apertar um botão que libera o cartão, caso você passe o cartão antes do cobrador apertar o tal botão, aparecerá uma mensagem de erro. Foi o que aconteceu. Fulana olha com uma cara ranzinza e estúpida e não fala uma palavra se quer. Fulana passou novamente o cartão, novamente antes do motorista e lá estava a mensagem de erro de novo. Olha ferozmente para o cobrador e aí sim ele aperta o botão e Fulana pode finalmente passar. Não agradece o cobrador, não dá um sorriso, apenas passa.


Foi uma atitude que me deixou pensando e que se repetiu inúmeras vezes durante o trajeto. Apesar de ser uma novela do cão pegar esses ônibus, por que as pessoas não tratam quem trabalha a favor delas de forma humana?
Por que as pessoas não enxergam o José e o Marcos e sim máquinas estúpidas que atrapalham seu dia a dia?
a Fulana ali é ela...



Um pouco de educação e simpatia só engrandece, eu garanto.

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